PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Para ser a Igreja do sim
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 18 de 5 de Maio de 2013
A Igreja «comunidade do sim», forjada pelo Espírito Santo, contraposta à «Igreja do não» que obriga o Espírito «a um trabalho duplo»: é a imagem proposta pelo Papa Francisco a quantos participaram na missa matutina de quinta-feira 2 de Maio, na capela da Domus Sanctae Marthae. Entre os concelebrantes estava o cardeal Albert Malcom Ranjith Patabendige Don, arcebispo de Colombo (Sri Lanka); D. Lorenzo Voltolini, arcebispo de Portoviejo (Equador), e monsenhor Raphael Kutaimi, pároco emérito da igreja sírio-católica de Bagdad, ferido no atentado perpetrado no último domingo de Outubro de 2010, durante o qual morreram cerca de cinquenta fiéis que assistiam à missa.
Durante a homilia o Pontífice reflectiu sobre a Igreja, que no dia de Pentecostes saiu do cenáculo depois da oração dos apóstolos com Maria. Uma Igreja, frisou, sempre impelida pelo Espírito Santo, que se difundiu devagar em todos os lugares do mundo, levando o anúncio entre os pagãos.
E na terça-feira 30 de Abril, aos participantes na missa, entre outros, um grupo de colaboradores da Administração do Património da Sé Apostólica, acompanhados pelo cardeal Domenico Calcagno, o qual concelebrou, o Papa ofereceu uma reflexão sobre o sentido da paz, da paz verdadeira, que não se compra. É um dom de Deus. Um dom que Ele oferece à sua Igreja. Para a obter os cristãos devem continuar a confiar a Igreja a Deus, pedindo-lhe que se ocupe dela e a defenda das ameaças do maligno, que oferece ao homem uma paz diversa, uma paz mundana, não a paz verdadeira. Mas «nós — perguntou-se o Papa — rezamos pela Igreja? Por toda a Igreja? Pelos nossos irmãos, que não conhecemos, em todo o mundo?». É a Igreja do Senhor, espalhada no mundo inteiro; e quando «na nossa oração dizemos ao Senhor: “Senhor, olha para a tua Igreja”», entendemos esta Igreja, a Igreja do Senhor, a Igreja que reúne «os nossos irmãos». Esta é a oração que «devemos fazer com o coração — repetiu o Papa — e cada vez mais. Para nós é fácil rezar para pedir uma graça ao Senhor, quando necessitamos de algo; e não é difícil rezar para agradecer ao Senhor: obrigado por… Mas rezar pela Igreja, pelos que não conhecemos, mas que são nossos irmãos e irmãs, porque receberam o mesmo baptismo, e dizer ao Senhor: “são os teus, são os nossos... protege-os”», é outra coisa: significa «confiar a Igreja ao Senhor»; é «uma oração que faz crescer a Igreja» mas é também «um acto de fé. Nada podemos, somos todos pobres servidores da Igreja: mas é Ele que pode levá-la em frente, protegê-la e fazê-la crescer, torná-la santa, defendê-la do “príncipe deste mundo”», isto é, daquele que «quer que a Igreja se torne sempre mais mundana.
«Este é o maior perigo», porque «quando a Igreja se torna mundana, quando tem dentro de si o espírito do mundo», quando obtém a paz que não é do Senhor — a que Jesus nos garantiu dizendo: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz» — então torna-se uma Igreja «débil, uma Igreja que será vencida e incapaz de levar precisamente o Evangelho, a mensagem da Cruz, o escândalo da Cruz. Não pode levá-lo em frente se for mundana! Por isso é tão importante e forte esta oração: confiar a Igreja ao Senhor».
«Não é habitual para nós — frisou o Santo Padre — confiar a Igreja ao Senhor». Eis o convite a aprender a confiar os anciãos, os doentes, as crianças, os jovens ao Senhor, repetindo «”Protege Senhor a tua Igreja”: é tua! Com esta atitude ele dar-nos-á, no meio das tribulações, a paz que só ele pode dar. A paz que o mundo não pode dar, que não se compra; a paz que é um dom verdadeiro da presença de Jesus no meio da sua Igreja», inclusive nas tribulações: nas grandes, como «a perseguição», e também «nas pequenas, como a doença e os problemas de família». Tudo isto, disse o Pontífice na conclusão, devemos confiar ao Senhor, rezando: «protege a tua Igreja na tribulação, para que não perca a fé, para que não perca a esperança». E «hoje — acrescentou — gostaria de dizer: recitar esta oração de confiança para a Igreja fará bem a nós e à Igreja; dará grande paz a nós e grande paz à Igreja; não nos livrará das tribulações, mas far-nos-á fortes nas tribulações».
A missa do dia anterior, 29 de Abril, foi dedicada ao tema da reconciliação. Comentando as leituras do dia, o Papa frisou que o confessionário não é uma «lavandaria» que lava os pecados, nem um «momento de tortura» onde se infligem pauladas. De facto, o confessionário é o encontro com Jesus e sente-se directamente a sua ternura. Mas é preciso aproximar-se do sacramento sem truques nem meias-verdades, com mansidão e alegria, confiantes e armados com «aquela bendita vergonha», a «virtude do humilde» que faz com que nos reconheçamos pecadores.
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