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PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 06 de 06 de Fevereiro de 2014
Qualquer bom pai «precisa do filho: espera por ele, procura-o, ama-o, perdoa-o, quer que esteja ao seu lado, tão próximo como a galinha quer os seus pintainhos». Disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira, 4 de Fevereiro, na capela de Santa Marta.
Ao comentar as leituras da liturgia o Pontífice tratou o tema da paternidade, relacionando-o com as duas figuras principais descritas no evangelho de Marcos (5, 21-43) e no segundo livro de Samuel (18, 9-10.14.24-25.30; 19, 1-4): ou seja Jairo, um dos chefes da sinagoga na época de Jesus.
O Papa Francisco evidenciou que se tratava de uma «pessoa importante». Mas que «face à doença da filha» não sentiu vergonha em lançar-se aos pés de Jesus para o implorar: «A minha filha está a morrer, vem impor-lhe as mãos para que seja salva e viva!». Este homem não reflecte sobre as consequências do seu gesto. Não pensa que se Cristo «em vez de ser um profeta fosse um feiticeiro», arriscaria uma má figura. Sendo «pai — disse o Pontífice — não pensa: arrisca, ousa e pede». E também nesta cena, quando os protagonistas entram em casa encontram prantos e gritos. «Havia pessoas que gritavam alto porque era o seu trabalho: trabalhavam assim, indo chorar nas casas dos defuntos». Mas o delas «não era o choro de um pai».
O Pontífice recordou também que na Bíblia há pelo menos «dois momentos maus nos quais o pai responde» ao choro do filho. O primeiro é o episódio de Isaac que é levado por Abraão ao monte para ser oferecido em holocausto: ele apercebe-se «que levavam a lenha e o fogo, mas não o cordeiro para o sacrifício». Por isso «sentia angústia no coração. E que diz? “Pai”. Imediata foi a resposta: “Eis-me filho”». O segundo é o de «Jesus no Jardim das Oliveiras, com aquela angústia no coração: “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”. E os anjos vieram dar-lhe força. Assim é o nosso Deus: é pai».
Não só: a imagem de David que espera notícias sentado entre as duas portas do palácio faz recordar a parábola do capítulo 15 do Evangelho de Lucas, a do pai que esperava o filho pródigo, «que se tinha ido embora com muito dinheiro, com toda a herança. Como sabemos que o esperava?» perguntou o Papa Francisco. Porque — é a resposta que nos dão as escrituras — «o viu de longe. E porque todos os dias subia na esperança» que o filho voltasse. Com efeito, naquele pai misericordioso está «o nosso Deus», que «é pai». Daqui os votos de que a paternidade física dos pais de família e a paternidade espiritual dos consagrados, dos sacerdotes, dos bispos, sejam sempre como a dos dois protagonistas das cartas: «dois homens, que são pais».
Na conclusão o Pontífice convidou a meditar sobre estes dois «ícones» — David que chora e o chefe da sinagoga que se lança aos pés de Jesus sem vergonha, sem receio de se tornar ridículo, porque «estão em jogo os seus filhos» — e pediu aos fiéis que renovem a profissão de fé, dizendo «Creio em Deus Pai» e pedindo ao Espírito Santo que nos ensine a dizer «Abbá, Pai». Porque — disse — «é uma graça poder dizer a Deus: Pai, com o coração».
Na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 3 de Fevereiro, o Papa Francisco voltou a propor o testemunho do rei David, «santo e pecador», no «momento escuro» da fuga de Jerusalém devido à traição do filho Absalão.
Na sua meditação o Pontífice partiu da primeira leitura, tirada do segundo livro de Samuel (15, 13-14.30; 16, 5-13a). «Ouvimos — disse — a história daquele momento tão triste de David, quando teve que fugir porque o seu filho o traiu». São eloquentes as palavras de David, que chama Absalão «o filho que saiu das minhas vísceras». Estamos diante de «uma grande traição»: também a maior parte do povo se declara a favor «do filho contra o rei». Lê-se com efeito na Escritura: «O coração dos israelitas está com Absalão». Deveras para David é «como se este filho tivesse morrido».
Mas o que faz David diante da traição do Filho? O Papa indicou «três atitudes». Antes de tudo, explicou, «David, homem de governo, encara a realidade tal como ela é». Sabe que esta guerra será muito dura, sabe que haverá muitos mortos do povo», porque «uma parte do povo é contra a outra». E com realismo faz «a escolha de não deixar morrer o seu povo». Sem dúvida, teria podido «lutar em Jerusalém contra as forças do seu filho. Mas disse: não, não quero que Jerusalém seja destruída!». E opôs-se também aos seus que queriam levar embora a arca, ordenando-lhes que a deixassem no seu lugar: «Que a arca de Deus permaneça na cidade!». Tudo isto mostra «a primeira atitude» de David, que «para se defender não usa nem Deus nem o seu povo», porque sente por ambos um «grande amor».
A segunda é uma «atitude penitencial», que David assume quando foge de Jerusalém. Lê-se no trecho do livro de Samuel: «Subia chorando» ao monte «e caminhava com a cabeça coberta e os pés descalços». Mas, comentou o Papa, «imaginai o que significa subir ao monte descalço!». O mesmo fazia o povo que estava com ele: «Tinha a cabeça coberta e, subindo, chorava».
Por conseguinte, David vive uma «atitude penitencial». Ao contrário, quando acontece a nós, disse o Papa, «uma coisa semelhante na nossa vida, procuramos sempre — é o nosso instinto — justificar-nos». Ao contrário, «David não se justifica. É realista. Procura salvar a arca de Deus, o seu povo. E faz penitência» subindo ao monte. Por esta razão «é grande: um grande pecador e um grande santo». Sem dúvida, acrescentou o Santo Padre, «como se podem conciliar estas duas coisas» só «Deus sabe. Mas esta é a verdade!».
Precisamente estas três atitudes de David no momento da escuridão, no momento da prova, podem ajudar todos nós» quando nos encontramos em situações difíceis. Não se deve «negociar a nossa pertença». Depois, repetiu o Pontífice, devemos aceitar a penitência», compreender as razões pelas quais se «precisa de fazer penitência», e deste modo saber «chorar sobre os nossos erros, sobre os nossos pecados». Por fim, não se deve procurar fazer justiça com as próprias mãos mas devemos «confiar-nos a Deus».
Na missa da manhã de 31 de Janeiro referindo-se ao episódio da tentação de David que, apaixonado por Betsabé, esposa do seu soldado fiel Urias, envia o marido dela para a batalha provocando assim a sua morte. A perda do sentido do pecado, disse, é o sinal da diminuição do significado do reino de Deus, que nos faz esquecer que a salvação deriva dele e «não da astúcia» do homem. Libertar-se do perigo de ser cristãos «demasiado seguros» — foi a exortação do Papa — de perder o «sentido do pecado», fechados numa «visão antropológica superpoderosa» e mundana, capaz de levar o homem a julgar que pode fazer tudo sozinho.
A figura de Urias suscita esta reflexão conclusiva do Santo Padre: «Confesso-vos que quando vejo estas injustiças, esta soberba humana», ou «quando sinto o perigo de que eu mesmo» corro o risco de «perder o sentido do pecado, acho bom pensar nos Urias da história, que também hoje sofrem a nossa mediocridade cristã», a qual prevalece quando «permitimos que o reino de Deus esmoreça». As pessoas como Urias «são os mártires não reconhecidos dos nossos pecados». Por isso, «oremos hoje por nós mesmos para que o Senhor nos conceda sempre a graça de não perder o sentido do pecado». E concluiu convidando «a levar uma flor espiritual ao túmulo dos Urias contemporâneos que pagam a conta do banquete dos cristãos seguros de si mesmos e que, sem querer ou de propósito, matam o próximo».
Na missa de quinta-feira, 30 de Janeiro, o Papa Francisco afirmou que o sensus Ecclesiae — que nos salva da «absurda dicotomia de ser «cristãos sem Igreja» — baseia-se em três pilares: humildade, fidelidade e serviço da oração. Um pensamento que se relaciona com o «trecho do segundo livro de Samuel (7, 18-19.24-29) que ouvimos hoje. O Trecho narra o pensamento de «David, muito bondoso com o Senhor», que reflecte: «Eu vivo num palácio, mas a arca do Senhor está numa tenda: façamos um templo». A resposta do Senhor é negativa: «Não, tu não o farás, fá-lo-á teu filho!». E «David aceita, mas aceita com alegria», apresentando-se diante de Deus e falando-lhe «como um filho a um pai». O Pontífice aprofundou o significado desta acção em três pontos: humildade, fidelidade e serviço da oração.
Portanto, resumiu o Pontífice, a humildade faz-nos compreender que «estamos inseridos numa comunidade como uma grande graça» e que «a história da salvação não começará comigo, não acabará comigo: cada um de nós pode dizer isto». Ao contrário, a fidelidade recorda-nos que «recebemos o Evangelho, uma doutrina» à qual ser fiéis e que devemos preservar. E o serviço estimula-nos a ser constantes na «oração pela Igreja». O Senhor, desejou ao concluir, nos ajude a caminhar por esta estrada a fim de aprofundar a nossa pertença à Igreja e o nosso sentir com a Igreja».
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