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PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 12 de 20 de Março de 2014
O cristão que pensa que se pode salvar sozinho «é um hipócrita», um «cristão disfarçado». A quaresma é o tempo oportuno para mudar a vida e para se aproximar de Jesus, pedindo perdão, arrependidos e prontos a testemunhar a sua luz e cuidando dos necessitados. Uma nova reflexão quaresmal foi proposta na manhã de terça-feira 18 de Março, pelo Papa Francisco na missa celebrada em Santa Marta.
«O tempo da quaresma — disse na homilia — é oportuno para nos aproximar mais do Senhor». De resto, explicou, a própria palavra o diz, porque quaresma significa conversão. E precisamente com um convite à conversão, disse comentando o trecho de Isaías (1, 10.16-20), «começa a primeira leitura de hoje. Com efeito, o Senhor chama à conversão; e curiosamente chama duas cidades pecadoras», Sodoma e Gomorra, às quais dirige o convite: «Convertei-vos, mudai de vida, aproximai-vos do Senhor». E explicou: «este é o convite da quaresma: são quarenta dias para se aproximar do Senhor, para estar mais perto dele. Porque todos nós temos necessidade de mudar de vida».
Depois o Papa referiu-se ao trecho do evangelho de Marcos (23, 1-12) acabado de proclamar: «Lemos no evangelho que o Senhor quer uma aproximação verdadeira, sincera. Mas o que fazem os hipócritas? Fingem. Fingem-se bons. Fazem uma pose de imagenzinhas, rezam olhando para o céu, chamando a atenção sobre si, sentem-se mais justos do que os outros, desprezam os outros». E proclamam-se bons católicos porque conhecem benfeitores, bispos e cardeais.
Esta é — frisou — a hipocrisia. E o Senhor diz não, porque ninguém se deve sentir justo por decisão pessoal. «Todos precisamos de ser justificados — repetiu o bispo de Roma — e o único que nos justifica é Jesus Cristo. Por isso devemos aproximar-nos: para não sermos cristãos disfarçados».
Mas «qual é o sinal de que estamos na estrada certa? A Escritura diz-nos: defender o oprimido, cuidar do próximo, do doente, do pobre, dos necessitados, dos ignorantes. Esta é a pedra de comparação». «Os hipócritas não podem fazer isto, porque são tão cheios de si que se tornaram cegos e não olham para os outros». Mas «se caminharmos um pouco e nos aproximarmos do Senhor, a luz do Pai faz ver tudo isto e ajudamos os irmãos. Este é o sinal da conversão».
Portanto, a quaresma serve para «mudar a nossa vida, para ajustar a vida e nos aproximar do Senhor». E a hipocrisia é «o sinal de que nos afastamos do Senhor». E concluiu: «O Senhor nos dê luz e coragem: luz para conhecer o que acontece dentro de nós e coragem para nos convertermos, nos aproximarmos do Senhor. É bom estar próximo do Senhor».
Quem sou eu para julgar os outros? É a pergunta que devemos fazer a nós mesmos para dar espaço à misericórdia, a atitude justa para construir a paz entre as pessoas, as nações e dentro de nós. Para sermos mulheres e homens misericordiosos é necessário reconhecer, em primeiro lugar, que somos pecadores e depois alargar o coração até esquecer as ofensas recebidas.
Foi precisamente a misericórdia que o Papa focalizou na homilia da missa celebrada na manhã de segunda-feira, 17 de Março. Referindo-se aos trechos do livro do profeta Daniel (9, 4-10) e do Evangelho de Lucas (6, 36-38), o Santo Padre explicou que «o convite de Jesus à misericórdia é para nos aproximarmos, para imitar melhor o nosso Deus Pai: sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso». Mas, reconheceu imediatamente o Pontífice, «não é fácil compreender esta atitude da misericórdia, porque nós estamos habituados a descarregar nos outros: tu fizeste isto, agora tens que fazer isto». Em poucas palavras, «nós julgamos, temos este hábito, e não somos pessoas» que deixam «um pouco de espaço à compreensão e também à misericórdia».
«Para ser misericordiosos são necessárias duas atitudes» afirmou o Papa. A primeira é «o conhecimento de si mesmos». Na primeira leitura Daniel narra o momento da oração do povo que se confessa pecador diante de Deus. Assim, explicou o Pontífice ao comentar o trecho, «a justiça de Deus diante do povo arrependido transforma-se em misericórdia e perdão». E interpela também a nós, convidando-nos a «dar um pouco de espaço a esta atitude». «Reconhecer que se fez algo contra o Senhor e envergonhar-se diante de Deus é uma graça: a graça de ser pecadores!».
«O nosso pai Adão — afirmou o Papa — deu-nos um exemplo daquilo que não se deve fazer». De facto, ele atribui a culpa à mulher por ter comido o fruto e justifica-se dizendo: «Eu não pequei». Mas o mesmo faz depois Eva, que dá a culpa à serpente. Ao contrário, reiterou o Santo Padre, é importante reconhecer os nossos pecados e ter necessidade do perdão de Deus. Não se devem procurar desculpas e «culpabilizar os outros». E «se fizermos isto, quantos coisas boas acontecerão: seremos homens!».
A segunda atitude para ser misericordiosos «é alargar o coração». Precisamente «a vergonha, o arrependimento, alarga o coração pequenino, egoísta, porque dá espaço a Deus misericordioso para nos perdoar». Mas que significa alargar o coração? Em primeiro lugar, reconhecer que somos pecadores, sem olhar para o que os outros fizeram. E a pergunta fundamental torna-se esta: «Quem sou eu para julgar isto? Quem sou eu para falar disto? Quem sou eu, que fiz as mesmas coisas ou até pior?». Com efeito, «se tiveres o coração largo, grande, podes receber mais!». E um «coração grande não se intromete na vida dos outros, não condena, mas perdoa e esquece», exactamente como «Deus esqueceu e perdoou os meus pecados».
Por conseguinte, para sermos misericordiosos é necessário invocar ao Senhor — «pois é uma graça» — e «ter estas duas atitudes: reconhecer os próprios pecados e envergonharmo-nos» e esquecer os pecados e as ofensas dos outros.
Este é, sugeriu o Papa, «o caminho da misericórdia que devemos pedir». Se «todos nós, os povos, as pessoas, as famílias, os bairros, tivéssemos esta atitude — exclamou — quanta paz haveria no mundo, quanta paz nos nossos corações, porque a misericórdia nos traz a paz!». E concluiu: «Recordai-vos sempre: quem sou eu para julgar? Envergonhar-se e alargar o coração! Que o Senhor nos conceda esta graça!».
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