DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
À SUA SANTIDADE PAPA TAWADROS II,
PATRIARCA DA IGREJA COPTA ORTODOXA
Quinta-feira, 11 de maio de 2023
Santidade! Queridos irmãos em Cristo!
«Este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e exultemos nele!». Foi com esta aclamação pascal que, há cinquenta anos, o Papa São Paulo VI recebeu na Basílica de São Pedro o seu venerado predecessor, Papa Shenouda III. É com a mesma aclamação que hoje lhe dou as boas-vindas, amado irmão e caro amigo Tawadros. Agradeço-lhe de coração por ter aceite o meu convite para comemorar juntos o jubileu deste histórico acontecimento em 1973, assim como o décimo aniversário do nosso primeiro encontro em 2013.
No caminho ecuménico, é importante olhar sempre em frente . Cultivando no coração uma saudável impaciência e um ardente desejo de unidade, devemos estar, como o apóstolo Paulo, «inclinados para o futuro» (cf. Fl 3, 13) e perguntar-nos continuamente: “Quanta est nobis via?” — até onde ainda devemos ir? Mas também é necessário fazer memória , sobretudo nos momentos de desânimo, para nos alegrarmos pelo caminho já percorrido, inspirando-nos no fervor dos pioneiros que nos precederam. Olhar em frente e fazer memória. Mas, sem dúvida, é ainda mais necessário olhar para o alto , agradecer ao Senhor pelos passos dados e suplicar-lhe que nos conceda o dom da suspirada unidade.
Agradecer e suplicar. Eis o objetivo da nossa comemoração de hoje. O encontro dos nossos Predecessores, que teve lugar em Roma de 9 a 13 de maio de 1973, marcou uma etapa histórica nas relações entre a Sé de São Pedro e a Sé de São Marcos. Foi o primeiro encontro entre um Papa da Igreja copto-ortodoxa e um Bispo de Roma. Marcou também o fim de uma controvérsia teológica que remontava ao Concílio de Calcedónia, graças à assinatura, a 10 de maio de 1973, de uma memorável declaração cristológica conjunta, que mais tarde serviu de inspiração para acordos semelhantes com outras Igrejas ortodoxas orientais.
O encontro levou à criação da Comissão mista internacional entre a Igreja católica e a Igreja copto-ortodoxa, que em 1979 adotou os pioneiros Princípios para orientar a busca da unidade entre a Igreja católica e a Igreja copto-ortodoxa , assinados pelo Papa São João Paulo II e pelo Papa Shenouda III, afirmando com palavras proféticas que «a unidade que imaginamos não significa a absorção de um por parte do outro, nem o domínio de um sobre o outro. Está ao serviço de cada um para o ajudar a viver melhor os dons específicos que recebeu do Espírito de Deus».
Depois, esta Comissão mista abriu o caminho para o nascimento de um fecundo diálogo teológico entre a Igreja católica e toda a família das Igrejas ortodoxas orientais, que teve o seu primeiro encontro em 2004, no Cairo, sob a égide de Sua Santidade Shenouda. Agradeço à Igreja copto-ortodoxa pelo seu compromisso neste diálogo teológico. Estou grato também a Vossa Santidade pela atenção fraterna que continua a reservar à Igreja copto-católica, proximidade que encontrou expressão louvável na criação do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Egito.
Como se vê, o encontro dos nossos ilustres Predecessores nunca deixou de dar frutos no caminho das nossas Igrejas rumo à plena comunhão. É também em memória do encontro de 1973 que Vossa Santidade veio ao meu encontro aqui pela primeira vez, a 10 de maio de 2013, alguns meses após a sua entronização e poucas semanas depois do início do meu pontificado. Nessa ocasião, Vossa Santidade propôs a celebração, a cada 10 de maio, do “Dia da amizade entre coptas e católicos”, que desde então foi celebrado pontualmente pelas nossas Igrejas.
Quando se fala de amizade, vem-me à mente o famoso ícone copta do século VIII, com a representação do Senhor que apoia a mão no ombro do seu amigo, o santo monge Mena do Egito. Este ícone é às vezes chamado “ícone da amizade”, porque o Senhor parece querer acompanhar o seu amigo e caminhar com ele. De modo análogo, os laços de amizade entre as nossas Igrejas estão enraizados na amizade do próprio Jesus Cristo com todos os seus discípulos, a quem Ele chama “amigos” (cf. Jo 15, 15), e a quem acompanha no seu caminho, como fez com os peregrinos de Emaús.
Neste caminho de amizade, somos acompanhados também pelos mártires, os quais testemunham que «ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13). Não tenho palavras para exprimir a minha gratidão pelo precioso dom de uma relíquia dos mártires coptas assassinados na Líbia a 15 de fevereiro de 2015. Estes mártires foram batizados não só na água e no Espírito, mas também no sangue, sangue que é semente de unidade para todos os seguidores de Cristo. Estou feliz por anunciar hoje que, com o consentimento de Vossa Santidade, estes 21 mártires serão incluídos no Martirológio Romano como sinal da comunhão espiritual que une as nossas duas Igrejas.
Possa a oração dos mártires coptas, unida à da Theotokos, continuar a fazer crescer as nossas Igrejas na amizade, até ao dia abençoado em que poderemos celebrar juntos no mesmo altar e comungar do mesmo Corpo e Sangue do Salvador, «para que o mundo creia» (Jo 17, 21)!
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