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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

DISCURSO DO SANTO PADRE
AOS SEMINARISTAS MAIORES DE TODO O MÉXICO

Seminário de Guadalajara
 Terça-feira, 30 de Janeiro de 1979

 

Queridos seminaristas, diocesanos e religiosos do México

A paz do Senhor esteja sempre convosco!

O entusiasmo transbordante e afectuoso com que me recebeis, esta tarde, faz-me sentir profundamente comovido. É uma satisfação imensa a que sinto ao compartilhar convosco estes momentos, que da vossa parte confirmam, sem dar azo a dúvidas, o apreço que sentis pelo Papa diante de Deus, e isto infunde-me conforto e novo alento (Cfr. 2 Cor. 7, 15).

Mediante vós, a minha alegria interior estende-se aos queridos Irmãos no Episcopado, aos Sacerdotes, Religiosos e a todos os Fiéis. A todos chegue o meu mais profundo agradecimento por tão grandes e tão filiais atenções e cordialidade, e mais ainda pela sua recordação nas orações ao Senhor. Posso assegurar-vos que a vossa correspondência unânime a esta minha "visita pastoral" ao México, veio dando consistência, em mim, durante estes dias, a um grato pressentimento. Dir-vo-lo-ei com palavras do apóstolo: Alegro-me de poder contar em tudo convosco (2 Cor. 7, 16)

1. É para mim mais um motivo de satisfação saber que os Seminários mexicanos têm uma grande e gloriosa tradição, que remonta aos tempos do Concílio de Trento, com a criação do Colégio "São Pedro", nesta cidade de Guadalajara, no ano de 1570. A ele foram-se acrescentando, no tempo, muitos outros centros de formação sacerdotal, disseminados por todo o território nacional, como demonstração persistente de uma viçosa e pujante vitalidade eclesial. Não quero deixar de referir-me ao já centenário Colégio Mexicano em Roma, que tem uma missão tão importante: manter vivo o vínculo entre o México e a Cátedra do Papa. Considero um dever iniludível de todos ajude-lo e ampará-lo para que cumpra tão primordial empresa com plena fidelidade às normas do Magistério e às orientações dadas pela Sede de Pedro.

Esta solicitude histórica por criar novos seminários, suscita em mim sentimentos de complacência e aplauso; mas o que de modo especial me enche de esperança, é o continuo florescimento de vocações sacerdotais e religiosas. Sinto-me feliz por vos ver aqui, jovens transbordantes de alegria por haverdes dito sim ao convite do Senhor, para O servirdes de corpo e alma na sua Igreja, mediante o sacerdócio ministerial. Como São Paulo, quero abrir-vos de par em par a minha alma para vos dizer: o nosso coração está completamente aberto..., procurai, pois, corresponder-nos (2 Cor. 6, 11-13).

2. Há pouco mais de dois meses, logo que iniciei o meu Pontificado, tive uma "audiência eucarística" com os Seminaristas de Roma. Como, então, os convidei, a eles, assim também, hoje, vos convido, a vós, a escutardes atentamente o Senhor que vos fala ao coração, principalmente na oração e na liturgia, para irdes descobrindo e enraizando, no profundo do vosso ser, o sentido e o valor da vocação.

Deus, que é Verdade e é Amor, manifestou-Se-nos na história da criação e na história da salvação: uma história ainda incompleta, a. da humanidade, que aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus (Cfr. Rom. 8, 19). O mesmo Deus nos escolheu e nos chamou para infundirmos nova força nessa história, sabendo já agora que a salvação é dom de Deus, não vem das obras... pois nós somos obra Sua, criados em Jesus Cristo (Ef. 2. 8-10). Uma história, portanto, que é, no desígnio de Deus, também a nossa, porque nos quer operários na sua vinha (Cfr. Mt. 20, 1-16), nos quer embaixadores seus para irmos ao encontro de todos e os convidarmos a tomarem parte no Seu banquete (Ibid. 22, 1-14), nos quer samaritanos, que usam de misericórdia com o próximo desvalido (Lc. 10, 30 ss.).

3. Já isto bastaria para vislumbrar de perto quão grande é a vocação. Experimentá-la é um acontecimento único, indizível, que unicamente se percebe, como um sopro suave através do toque desvelante da graça: um sopro do Espírito, que, ao mesmo tempo que dá perfil autêntico à nossa frágil realidade humana — vaso de barro em mãos de oleiro (Cfr. Rom. 9, 20-21) —, acende nos nossos corações uma luz nova, infunde uma força extraordinária que, cimentando-nos no amor, une a nossa existência à actividade divina, ao divino plano de recriação do homem em Cristo, quer dizer, a formação da sua nova família redimida. Sois pois chamados a construir a Igreja - comunhão com Deus —, muito para além do que se pode pedir ou imaginar (Cfr. Ef. 3, 14-21).

4. Queridos seminaristas, que um dia sereis ministros de Deus para plantar e regar o campo do Senhor: aproveitai, estes anos no seminário, para vos encherdes dos sentimentos do mesmo Cristo no estudo, na oração, na obediência, na formação do próprio carácter. Vereis como, à medida que vai maturando a vossa vocação nesta escola, a vossa vida irá assumindo alegremente um sinal específico, uma indicação bem precisa: o sentido dos outros, como Cristo, que andou fazendo o bem e curando todos (Act. 10, 38). Deste modo, o que humanamente poderia parecer um fracasso, converte-se num radiante projecto de vida já examinado e aprovado por Jesus: não vir para ser servido, mas para servir (Mt. 20, 28).

Como bem compreendereis, nada é mais alheio à vocação do que o aliciante de vantagens terrenas ou a busca de benefícios ou de honras; e muito longe está também, a vocação, de ser a fuga de um ambiente de ilusões frustradas ou que se apresenta hostil ou alienante. A boa nova, para o chamado para o serviço do Povo de Deus, além de ser um chamamento a mudar e a melhorar a própria existência é chamamento para unia vida já transformada em Cristo que se há-de anunciar e propagar.

Baste-vos isto, queridos seminaristas. O resto sabereis acrescentá-lo vós, com o vosso coração aberto e generoso. Uma coisa quero acrescentar: amai os vossos Directores, Educadores e Superiores. A eles incumbe a grata mas também difícil tarefa de vos levar pela mão pelo caminho que conduz ao sacerdócio. Eles vos ajudarão a adquirir o gosto da vida interior, o hábito exigente da renúncia por Cristo, do desprendimento, e, sobretudo, contagiar-vos-ão com o suave odor do Seu conhecimento (Cfr. 2 Cor. 2. 14). Não tenhais medo. O Senhor está convosco e a todo o momento é a nossa melhor garantia: sei em Quem pus a minha confiança (2 Tim. 1, 12).

Com esta confiança no Senhor, abri o vosso coração à acção do Espírito Santo; abri-o num propósito de entrega que não conhece reservas; abri-o ao mundo que vos espera e tem necessidade de vós; abri-o ao chamamento que já vos dirigem tantas almas às quais um dia podereis dar Cristo, na Eucaristia, na Penitência, na pregação da Palavra revelada, e no conselho amigo e desinteressado, no testemunho alegre da vossa vida de homens no mundo, mas sem ser do inundo.

Vale a pena dedicardes-vos à causa de Cristo, que quer corações valentes e decididos; vale a pena consagrardes-vos ao homem por Cristo, para o levardes a Ele, para o elevardes, para o ajudardes no caminho para a eternidade; vale a pena fazer uma opção por um ideal que vos proporcionará grandes alegrias, embora também vos exija não poucos sacrifícios. O Senhor não abandona os seus.

Vale a pena viver pelo Reino esse precioso valor do cristianismo que é o celibato sacerdotal, património plurissecular da Igreja; vivê-lo responsavelmente, embora vos exija não poucos sacrifícios. Cultivai a devoção a Maria, a Virgem Mãe do Filho de Deus, para que vos ajude e alente a realizardes plenamente esse ideal!

Mas quero reservar também uma palavra especial para vós, educadores e superiores de Casas de formação seminarística. Tendes entre mãos um tesouro eclesial. Cuidai dele com o maior esmero e diligência, para que ele possa produzir os frutos esperados. Formai estes jovens na sã alegria, no cultivo de uma personalidade rica, adaptada ao nosso tempo. Mas formai-a bem sólida na fé, nos critérios do Evangelho, na consciência do valor das almas, num espírito de oração capaz de enfrentar os embates do futuro.

Não corteis a visão vertical da vida nem trunqueis as exigências que a opção por Cristo impõe. Se propomos ideais desvirtuados, são os jovens os primeiros a não os quererem, porque desejam algo que valha a pena, que seja ideal digno de uma existência. Embora custe.

Responsáveis das vocações, sacerdotes, religiosos, pais e mães de família! A vós dirijo estas palavras. Comprometei-vos com generosidade na tarefa de procurar novas vocações, tão importantes para o futuro da Igreja. A escassez de vocações requer um esforço consciente para que possa ser remediada. E isto não se conseguirá se não soubermos orar, se não soubermos dar à vocação para o sacerdócio, diocesano ou religioso, o apreço e a estima que ela merece.

Dou-vos a todos a minha Bênção. Jovens seminaristas, Cristo espera-vos! Não podeis defraudá-1'O.

 



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