VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO BRASIL
(30 DE JUNHO - 12 DE JULHO DE 1980)
ENCONTRO DO PAPA JOÃO PAULO II
COM OS LEPROSOS
Salvador da Bahia, 7 de Julho de 1980
Filhos e filhas caríssimos
1. A vossa presença desperta na minha alma um sentimento particular, algo daquela emoção e daquele afeto que Nosso Senhor Jesus Cristo experimentou, durante o ministério da vida pública, para com os doentes que de todas as partes acorriam para ouvir a sua palavra de Salvação e ser curados de suas enfermidades.
Entre tantos episódios de cura narrados pelos quatro Evangelistas, vos lembrareis decerto daquele que descreve São Lucas: o homem doente que de rosto em terra Lhe suplicava: “Senhor, se queres, podes limpar-me”. Jesus estende a mão, toca-o e lhe diz: “Quero; fica limpo”. E desaparecem todas as marcas da doença (Cf. Lc 5, 12-13).
O humilde Vigário de Cristo está hoje no meio de vós com a mesma intensidade de afeto com que o Messias divino acolhia e abençoava as multidões e, de modo especial, as pessoas aflitas pela enfermidade que aflige a vós também.
2. Comentam muitos que a purificação externa do corpo era o símbolo de uma transformação interior: o renascer de uma pureza, de uma confiança, de uma coragem que vêm do Alto. O Papa gostaria que seu contacto convosco vos trouxesse estes inapreciáveis sentimentos interiores. Ele vos exorta a não vos deixardes abater nem pelo medo nem pela falta de confiança. A não cederdes à tentação do isolamento. A unirdes a confiança nos progressos da medicina a uma atitude de constante e confiante oração.
3. Em nome daquele mesmo Jesus, que eu hoje represento diante de vós, exorto-vos também a utilizardes bem e valorizardes o sofrimento que trazeis impresso no vosso corpo e no vosso espírito. Recordai-vos sempre de que a dor nunca é vã, nunca é inútil. Antes, precisamente no momento em que fere a vossa existência, limitando-a na sua afirmação humana, se é elevada a uma dimensão sobrenatural, ela pode ao mesmo tempo sublimar e resgatar essa existência para um destino superior que ultrapassa o limiar da situação pessoal para atingir a sociedade inteira, tão necessitada de quem saiba sofrer e oferecer-se pela sua redenção. Se aplicardes à vossa dor estas grandes intenções, que superam o nível puramente humano, colaborareis com Cristo no plano da salvação e sereis capazes de difundir ao redor de vós maravilhosos exemplos de força moral, que somente quem sofre com esta fé na alma pode comunicar aos outros.
4. Confio muito na vossa lembrança, no vosso auxílio e na vossa oração, não só pelo bom êxito desta viagem apostólica no Brasil, mas também por todas as solicitudes que trago no meu coração de Pastor da Igreja universal.
Com estes pensamentos, saudando-vos com benevolência e exprimindo meu alto apreço por aqueles que cuidam de vós e vos assistem, confio-vos à materna proteção da Santíssima Virgem, de quem sei que sois muito devotos, e concedo-vos de todo o coração a Bênção Apostólica.
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