DISCURSO DO SANTO PADRE AOS HABITANTES
DA LOCALIDADE DE CESI (ITÁLIA)
VÍTIMAS DO TERREMOTO DE 1997
3 de Janeiro de 1998
Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. Depois da visita a Annifo, eis-me agora no meio de vós, em Cesi, para abraçar de modo ideal, juntamente convosco, todas as populações das Marcas atingidas pelo terremoto. Saúdo o Bispo de Camerino e o Presidente da Conferência Episcopal Regional, o Arcebispo de Fermo, o Pároco e a inteira comunidade desta cidade, que viu praticamente destruída quase a totalidade das suas habitações. Dirijo um pensamento cordial aos habitantes dos outros centros, nos quais igrejas e casas se tornaram impraticáveis ou desabaram. Vou espiritualmente a todas as famílias, entre os doentes, as pessoas anciãs, as crianças. A todos quereria dizer, de modo especial a quem vive no desconforto: Coragem! Coragem! O Senhor está próximo! O Papa sente-se perto de vós!
Estive junto de vós desde o primeiro momento, quando recebi a notícia deste sismo devastador. Orei por vós e continuo a fazê-lo. Mas, hoje, eis-me no meio de vós, ainda que por pouco tempo, para vos manifestar a minha solidariedade. No início do um novo ano, venho a vós no nome daquele Deus que escolheu assumir a nossa frágil humanidade, a fim de infundir nela uma esperança nova e invencível, porque fundada sobre a fé.
2. As provas da vida fazem-nos experimentar a nossa precariedade humana. Recordam-nos que na terra estamos de passagem, e que a nossa pátria não é aqui, mas junto de Deus. Neste tempo natalício, porém, a liturgia repete que o próprio Deus, o Criador e Senhor de todas as coisas, não está distante de nós, mesmo se parecesse o contrário. Ele é solidário com os nossos sofrimentos; veio habitar no meio de nós, escondendo-Se na nossa condição humana, porque quer infundir nela o amor, fonte e significado último de toda a existência. Diz o Salmista: «Deus é para nós refúgio e fortaleza, ajuda sempre pronta nas angústias. Por isso, não tememos mesmo que a terra trema, mesmo que as montanhas caiam no meio dos mares» (Sl 46 [45], 2-3). No meio de todos os transtornos, o crente não perde a consciência da presença confortadora do Senhor. Também vós, caros Irmãos e Irmãs, fortificados pelo Seu apoio, podereis não só reconstruir materialmente as vossas cidades, mas tereis energia espiritual para uma autêntica renovação interior e comunitária.
3. Nos dias que transformaram a vida tranquila e operosa destas terras, as vossas populações ofereceram um singular testemunho de dignidade, que suscitou admiração universal. Os danos materiais não enfraqueceram o vosso apego a estas regiões. Ao contrário, a decisão tomada pela grande maioria das vítimas do terremoto de continuar a viver nos próprios centros, demonstra que a prova sofrida tornou mais forte o seu senso de identidade e pertença.
Um encorajamento nesse sentido foi certamente o nascimento nestes meses de numerosas crianças, que alegraram muitas comunidades atingidas pelo sismo. Quereria daqui saudar todas as crianças que constituem a promessa de futuro e de vida para estas terras. Já tive ocasião de me encontrar com algumas, e agora, deste pequenino centro dos Apeninos da região da Úmbria e das Marcas, quereria idealmente dirigir-me a todas as crianças destas terras. No clima festivo do Natal, dirija-se a elas a minha saudação e o meu abraço afectuoso! Queridas crianças, o Senhor vos abençoe, vos faça crescer boas e corajosas, vos conceda, a vós e aos entes queridos, muita serenidade e muita alegria. Talvez, após anos, estas crianças, nascidas durante o sismo, aprendam dos seus pais: «Tu nasceste no momento do sismo, e nada sabias». De facto, assim corre a vida. Eu nasci no momento da guerra entre a Polónia e a Rússia comunista, e também eu nada sabia. Mas mantive uma grande admiração e uma grande gratidão para com aqueles que durante essa guerra tiveram confiança e depois venceram. Era muito importante. Corria o ano de 1920.
4. Ao lado das crianças estão os pais: eis as famílias às quais manifesto admiração pela força de espírito e pelo empenho com que reagiram à dura prova de um sismo intenso e prolongado. Muitas delas vivem em situações de emergência, estão em habitações provisórias. Jamais falte a estes núcleos familiares a ajuda de todos nós. A respeito disso, não posso deixar de ressaltar a surpreendente resposta de generosidade, que o sismo despertou também para além dos confins das Regiões atingidas. Com efeito, nestes meses, caríssimos Irmãos e Irmãs, pudestes contar com uma vasta rede de solidariedade, que vos fez sentir menos sozinhos.
Apesar das condições de dificuldade em que se trabalhou por causa da estação e das comunicações nem sempre fáceis, o empenho de todos já permitiu restabelecer, quase em todos os Centros, os serviços indispensáveis. Significativa de modo particular foi, além disso, a presença de tantos voluntários que, provenientes de todas as partes da Itália, compartilharam com as vítimas do terremoto dificuldades e preocupações, dramas e esperanças. De igual modo singular mostrou-se a solidariedade de tanta gente, que de várias maneiras fez com que lhes chegassem ajudas materiais, juntamente com inúmeros testemunhos de proximidade espiritual e de afecto. Entre os vários organismos empenhados nesta obra, encorajo em particular o trabalho da Cáritas, que coordena os serviços de solidariedade em nome da Comunidade eclesial.
Desejo exprimir o meu apreço por tudo o que foi feito e encorajo as Autoridades competentes a prosseguirem no caminho empreendido, para pôr em acto, com rapidez, as necessárias iniciativas de financiamento e de coordenação da obra de reconstrução. Com as felicitações para o novo ano, formulo votos por que, quanto antes, se possa retornar à vida habitual: as casas, as igrejas e os edifícios públicos, reconstruídos com critérios anti-sísmicos, serão o sinal do retorno à normalidade, e sobretudo de uma identidade espiritual que permanece e olha para o futuro. Caríssimos Irmãos e Irmãs, convido-vos a prosseguir nesta obra de fraternidade generosa e, ao invocar a constante protecção da Virgem Maria, com grande afecto dou a todos a minha Bênção.
Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana