MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
AO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
DA «RÁDIO POPULAR-REDE COPE»
A Sua Ex.cia o Senhor Salvador SÁNCHEZ TERÁN
Presidente do Conselho de Administração da «Rádio Popular-Rede COPE»
1. É-me grato enviar uma cordial saudação aos participantes na Assembleia anual dos Directores de todas as emissoras da COPE e associadas e dos Directores dos principais programas, que nestes dias tem lugar na Cidade Eterna. Com ela quisestes dar uma demostração significativa dos vossos sentimentos de adesão e afecto ao Sucessor do Apóstolo São Pedro, assim como da vossa proximidade à Santa Sé, com o olhar voltado para o acontecimento singular que é o próximo Grande Jubileu do Ano 2000.
Agradeço-vos deveras este gesto, que é muito eloquente. No último dia da Assembleia os seus participantes vão ter a oportunidade de assistir à Audiência geral, que congrega todas as quartas-feiras tantos peregrinos em torno do Papa e, nessa ocasião, poderão receber, juntamente com algumas palavras de encorajamento, a Bênção Apostólica. Mas enquanto não chega esse momento, quero antecipar-vos a minha saudação e renovar-vos as expressões de apreço e de agradecimento pelo vosso contributo, através das ondas radiofónicas, à missão da Igreja de anunciar Jesus Cristo aos homens e mulheres do nosso tempo.
2. A origem da rede de emissoras da Rede COPE remonta àquelas emissoras paroquiais, promovidas pelo zelo apostólico de sacerdotes e leigos católicos, que nos anos 60 animavam a vida nos povoados e cidades da Espanha. Não faltaram tampouco emissoras diocesanas cujo âmbito e possibilidades eram certamente maiores. Aquelas e estas se fundiram, e assim surgiu a Rede COPE dos nossos dias. A partir de então e ao longo de quase quarenta anos, muitos homens e mulheres ofereceram o seu trabalho e optimismo, nem sempre com abundância de meios, mas sempre animados por um espírito apostólico, criativo e entusiasta.
Hoje os tempos mudaram. O progresso técnico proporcionou meios poderosos e já não é a carência material ou os instrumentos que actualmente dificultam o trabalho dos comunicadores sociais. Um grande desafio dos nossos dias consiste em saber canalizar o imenso poder dos modernos meios de comunicação social, a fim de contribuir para o desenvolvimento de uma vida mais digna e elevada. A respeito disso, eu escrevia na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano: «Nunca se deve esquecer que a comunicação transmitida através dos meios de comunicação social, não é um exercício utilitarista, com a simples finalidade de solicitar, persuadir ou vender. Tampouco é um veículo para ideologias. Os meios de comunicação social, por vezes, podem reduzir os seres humanos a unidades de consumo ou a grupos de interesse em competição entre si, ou manipular telespectadores, leitores e ouvintes como meras cifras das quais se esperam vantagens, quer elas estejam relacionadas com um apoio de tipo político ou com a venda de produtos» (n. 4).
Diante disto, na COPE deveis ter claros os objectivos e as motivações. A Conferência Episcopal Espanhola, que segue com solicitude a vossa actividade e que nesta reunião se fez presente por meio do seu Presidente, D. Elías Yañes, Arcebispo de Saragoça, estabeleceu um ideário, assumido por vós, com a finalidade de aplicar de modo concreto na realidade o que a Igreja ensina sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade.
O carácter católico da COPE deve evitar equívocos e compromete todos vós à coerência com os princípios e valores do humanismo cristão. Ele não supõe necessariamente identificar-se com um modo de transmitir programas radiofónicos, cujo conteúdo seja explícita e exclusivamente religioso, ainda que esta seja uma forma muito válida, estimada e seguida por algumas emissoras. Na COPE optastes por um modelo de rádio mais geral, que pretende chegar a um número maior de pessoas, assumindo assim horizontes mais amplos. Contudo, isto não vos deve impedir de procurar levar a mensagem e a paz de Jesus Cristo a todos, aos que estão perto e aos distantes (cf. Ef 2, 17), inclusive àqueles que não mostram interesse por Ele. Isto obriga-vos a um esforço por manter o equilíbrio, alerta-vos a dominar a tensão entre o humano e o divino, entre o Evangelho e o materialismo, entre os valores perenes anunciados por Jesus Cristo e os postulados pela secularização.
3. Os cristãos que trabalham nos meios de comunicação social têm diante de si um grande desafio, ao qual já me referia na citada mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais: «não só a utilizar os meios de comunicação para difundir o Evangelho, mas também a inserir a mensagem evangélica na "nova cultura" criada pela moderna comunicação, com as suas "novas linguagens", novas técnicas e novas atitudes psicológicas» (n. 5). Neste sentido, deles é exigido um compromisso sério: por um lado, levar a cabo com alegria a acção evangelizadora explícita, sob a guia do Espírito Santo e do Magistério dos Pastores, através de uma linguagem expressiva e persuasiva; por outro, assumir as realidades do mundo presente, propondo-as aos homens e mulheres do nosso tempo no contexto da cosmovisão cristã que abrange a pessoa, a sociedade e a inteira natureza.
Além disso, deve-se ter em conta a importância transcendental que tem o testemunho pessoal e profissional de quantos trabalham na Rede COPE. Por isso, encorajo-vos a não sucumbir a tentações, tão subtis e enganosas, como a ambição, a vaidade, o dinheiro ou a popularidade. Ponde-vos com simplicidade à disposição de quantos esperam de vós o inestimável serviço da informação rigorosa, a opinião ponderada, a chamada à convivência plural, respeitosa e pacífica e, enfim, ao amor com raízes cristãs.
4. Finalmente quero referir-me ao grande acontecimento que nos espera e para o qual nos estamos a preparar: o Grande Jubileu do Ano 2000. Nele a Igreja vai celebrar o bimilenário da vinda de Cristo ao mundo, que é o acontecimento principal de toda a história, a plenitude dos tempos (cf. Gl 4, 4), o início do cristianismo. Jesus Cristo é o centro do cosmos e da história, o alfa e o ómega, o princípio e o fim. Diante deste acontecimento, é preciso apresentar com vigor o interrogativo que, no ano passado, propus aos comunicadores: «Existe, contudo, um lugar para Cristo nos mass media tradicionais? Podemos reivindicar um lugar para Ele na nova mídia?» (Mensagem para o XXXI Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de Janeiro de 1997). Por isso, exorto-vos a que redobreis os esforços para que Jesus Cristo, Palavra de Deus, esteja presente e guie os vossos passos numa tarefa tão nobre como a que realizais na Rede COPE.
A todos vós, aos trabalhadores e colaboradores da COPE, aos vossos familiares e aos ouvintes radiofónicos é-me grato conceder nesta circunstância a implorada Bênção Apostólica.
Vaticano, 6 de Julho de 1998.
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