DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DE BARBADOS
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
Senhor Embaixador
É-me grato dar-lhe as boas-vindas e aceitar as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Comunidade de Barbados junto da Santa Sé, e transmito-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão. Estou-lhe agradecido pelas palavras de saudação que me transmitiu da parte do Primeiro-Ministro, Sua Excelência o Senhor Owen Arthur, e peço que lhe expresse, bem como ao Governo e ao povo de Barbados os meus cumprimentos e a certeza das minhas orações pelo bem-estar da nação.
Senhor Embaixador, agradeço-lhe também as amáveis palavras de apreço pelos esforços da Santa Sé em vista de «chamar a atenção para o flagelo dos pobres, dos desamparados, dos necessitados, dos desabrigados e dos oprimidos do mundo inteiro». Efectivamente, no foro internacional a Santa Sé procura assegurar que as necessidades dos indivíduos e dos povos mais frágeis não sejam espezinhadas e não se subestimem as dimensões espirituais e morais das grandes problemáticas humanas do nosso tempo. As principais questões diplomáticas já não dizem respeito à soberania territorial, às fronteiras e ao território, embora nalgumas partes do mundo ainda haja tais problemas. Hoje em dia, a tarefa da diplomacia está estreitamente relacionada com a identificação das respostas para os desafios da globalização e da crescente independência das nações. De forma geral, as actuais ameaças contra a estabilidade no mundo são diferentes, como alguns eventos recentes no-lo demonstram de maneira tão dramática. As tensões étnicas, a ausência da democracia e o respeito pelos direitos humanos, a pobreza extrema, as desigualdades sociais, a poluição do meio ambiente: estes são alguns dos problemas que a diplomacia é chamada a abordar.
Barbados goza de um certo nível de estabilidade e prosperidade, o que representa uma significativa conquista no círculo dos países da região caribenha e torna a sua nação abundantemente capaz de assumir maiores responsabilidades regionais. Contudo, esta estabilidade e prosperidade são mais frágeis do que podem parecer: jamais se pode considerá-las de forma gratuita e elas devem ser sempre defendidas vigorosamente. Em última análise, isto significa que ambas se hão-de fundamentar numa sólida visão da verdade acerca da pessoa humana, a na verdade da dignidade e dos direitos invioláveis de cada ser humano. Lá onde não existe esta base, mais cedo ou mais tarde a estabilidade política degenera numa cultura política dominada pelo poder e não pelo serviço, pelo interesse egocêntrico e não pelo bem comum. Analogamente, quando a verdade sobre a pessoa humana é espezinhada, a prosperidade material passa a significar uma grande riqueza para poucos e o aviltamento da pobreza para muitos. Assim, a sociedade torna-se um campo de batalha e todos os tipos de violência, tanto explícitas como implícitas, são irrefreáveis.
Eis o motivo por que é encorajador tomar conhecimento da decisão do seu Governo de criar um Ministério que se ocupe da Transformação Social. Num certo sentido, esta é a tarefa de todo o Governo – um serviço ao bem comum, que transforma a sociedade humana numa espécie de lar onde todos ocupam o lugar que lhes é próprio. Mas há sempre a necessidade de agências que prestem atenção específica aos membros mais pobres e mais vulneráveis da sociedade, como aqueles que Vossa Excelência mencionou – «crianças portadoras de deficiência, idosos e desabrigados». Existem muitos critérios para determinar o grau de saúde de uma sociedade em particular, entre os quais se enumeram a estabilidade política e a prosperidade material. Contudo, o primeiro critério consiste em determinar como a sociedade trata aqueles que são mais débeis e mais vulneráveis; em última análise, é com base nisto que a sociedade será julgada. Muitas vezes durante este século testificámos o nascimento de sociedades em que as pessoas fracas eram deixadas de parte e consideradas como um fardo, e vimos os horrores que isto causou e ainda está a causar. Todos devem estar decididos a impedir que estes eventos se repitam.
Para transformarmos a sociedade, fundando-a sobre uma base sólida, em primeiro lugar precisamos de revigorar a célula básica da sociedade humana, a família. Lá onde a família é frágil, todas as outras tentativas de transformar a sociedade serão ineficazes. Quando as famílias são afligidas e desprovidas de assistência, constatamos a manifestação de uma série de outros problemas: os mais comuns são o desemprego, a violência, a delinquência sexual, a droga e o abuso do álcool. Senhor Embaixador, estou felizmente consciente de que a Igreja católica em Barbados é um parceiro de boa vontade nos esforços em vista de auxiliar e fortalecer a vida familiar. Além disso, há vários outros serviços fundamentais que a Igreja pode oferecer.
Outro elemento vital na transformação da sociedade é a educação, e Barbados tem-se prodigalizado de maneira proeminente neste sentido. A educação deve ter em consideração o desenvolvimento integral da pessoa, os valores fundamentais sem os quais o ser humano se reduz a uma unidade económica ou a uma cifra técnica. Todavia, a educação está assente na verdade da pessoa humana e por conseguinte ensinará aos jovens o sentido da sua própria dignidade e direitos, que os hão-de impelir ao respeito de si mesmos e do próximo. Com a sua prolongada e diversificada experiência no campo da educação, a Igreja católica ocupa uma óptima posição para ajudar Barbados nesta área vital.
Senhor Embaixador, estou persuadido de que o seu serviço há-de revigorar os vínculos de amizade e de compreensão entre a Comunidade de Barbados e a Santa Sé. Asseguro-lhe a pronta assistência dos vários departamentos da Santa Sé, enquanto Vossa Excelência cumprir os seus deveres. Sobre a sua pessoa, família e país, invoco as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.
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