DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA
PARA A CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO
DE 12 NOVOS SANTOS
Segunda-feira, 22 de Novembro de 1999
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caríssimos Religiosos e Religiosas
Irmãos e Irmãs!
1. Encontramo-nos hoje para renovar o nosso hino de louvor e de agradecimento a Deus, no dia seguinte à solene liturgia durante a qual, na Basílica Vaticana, tive a alegria de proclamar 12 novos Santos, invencíveis testemunhas de Cristo, Rei do universo. Ao mesmo tempo, queremos mais uma vez deter-nos para reflectirmos juntos sobre o seu luminoso exemplo de amor incondicional a Deus e de generosa dedicação ao bem espiritual e material dos irmãos.
2. Saúdo com grande afecto os peregrinos de língua espanhola vindos a Roma. Nesta ocasião, de modo particular saúdo os Irmãos das Escolas Cristãs, acompanhados dos seus alunos e ex-alunos, os Padres passionistas, assim como os membros da grande Família Hospitaleira. Estes Santos, filhos predilectos da Igreja e testemunhas fiéis do Senhor Ressuscitado, oferecem-nos o testemunho duma rica espiritualidade, forjada na fidelidade quotidiana e no dom incondicional de si à sua vocação ao serviço do próximo.
3. Os Irmãos mártires das Escolas Cristãs canonizados ontem, seguidores do carisma de São João Baptista de La Salle, entregaram-se plenamente à educação integral das crianças e dos jovens. Eles pertencem à longa série de educadores cristãos que dedicaram a sua vida e as suas energias ao ensino na escola católica, comprometidos neste irrenunciável serviço que a Igreja presta à sociedade. Esta, nos nossos dias, apresenta-se individualista e com tentações de secularismo. Diante disto, os Santos Mártires de Turón, procedentes de diversos pontos da geografia espanhola e um deles da Argentina, são a prova eloquente de que a fidelidade a Cristo vale mais do que a própria vida.
Que o seu exemplo, juntamente com o do Padre Inocêncio da Imaculada, incentive os jovens a abraçarem o estilo de vida que nos é proposto pelo Evangelho, vivido com coragem e entusiasmo. Que a obra educativa destes Santos Mártires seja também modelo para os educadores cristãos no limiar do novo milénio que já está para iniciar!
A respeito da formação das jovens gerações, quereria recordar o dever primordial dos pais, como primeiros e principais responsáveis pela educação dos filhos, o que supõe lhes seja dada absoluta liberdade para escolher o centro educativo para os seus filhos. As autoridades públicas, por sua parte, devem proporcionar que, a partir do respeito ao pluralismo e à liberdade religiosa, seja oferecida às famílias as condições necessárias para que, em todas as escolas, tanto públicas como particulares, se ministre uma educação conforme aos próprios princípios morais e religiosos. E isto torna-se ainda mais necessário num país como a Espanha, onde a maioria dos pais pede a educação religiosa para os seus filhos.
4. São Bento Menni, membro ilustre da Ordem Hospitaleira de São João de Deus e Fundador das Religiosas Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, viveu a sua vocação como apóstolo no campo da saúde, sem poupar esforços e sofrimentos, com coragem e uma entrega sem limites ao cuidado dos doentes, de modo especial das crianças e dos deficientes mentais.
A obra que realizam os seus Coirmãos e as Religiosas do Instituto por ele fundado, tem plena actualidade no mundo de hoje, onde com frequência os débeis e os que sofrem são marginalizados. Que a grande Família Hospitaleira, em fidelidade ao carisma do novo Santo, imite o imenso amor que ele sentia pelos mais desfavorecidos, dedicando inteiramente a vida ao seu serviço.
São Bento Menni descobriu a sua vocação quando levava a cabo tarefas de voluntariado em Milão. Muitos dos peregrinos que vieram para a sua canonização são voluntários em diversos centros hospitalares e noutros centros assistenciais. Este serviço enriquece a vossa vida, faz crescer a capacidade de doação e de acolhimento do próximo, especialmente dos que sofrem. Exorto-vos a prosseguir neste trabalho, iluminados pelo exemplo do Padre Menni, imitando-o e seguindo-o no caminho da misericórdia que ele praticou.
5. Dirijo-me a vós, caros Religiosos da Ordem Franciscana dos Frades Menores, e a quantos juntamente convosco exultam pela canonização de São Tomás de Cori. "Venho ao Retiro para me tornar santo": com estas palavras o novo Santo apresentou-se no lugar solitário de Bellegra, onde durante longos anos realizou progressivamente este exigente programa de vida evangélica.
Bem compreendestes que toda a verdadeira reforma inicia a partir de si mesmo e, precisamente por isso, a sua humilde pessoa coloca-se entre os grandes reformadores da Ordem dos Frades Menores.
Da intensidade da sua íntima relação com Deus, sobretudo da profunda devoção à Eucaristia, florescia a fecundidade da sua acção pastoral, tão incisiva que lhe mereceu o apelativo de "apóstolo da região sublacense". Verdadeiro filho do Pobrezinho de Assis, também dele se poderia afirmar o que se dizia de São Francisco, isto é, que "não era tanto um homem que ora, mas antes ele mesmo inteiramente transformado em oração viva" (Tomás de Celano, Vita Seconda, 95: Fontes Franciscanas, 682).
6. Caríssimos Irmãos e Irmãs! Juntamente com toda a Igreja, louvemos o Senhor pelas grandes obras que realizou através destes novos Santos.
Ao retornardes às vossas casas e às vossas ocupações quotidianas, levai convosco a alegre recordação desta peregrinação a Roma e continuai com coragem no empenho de testemunho cristão, para que possais preparar-vos para viver com intensidade e fervor o Ano Santo já próximo.
Com estes votos, confio todos vós à celeste protecção de Nossa Senhora e dos novos Santos, e de coração abençoo-vos, juntamente com as vossas famílias e comunidades.
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