DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR MOHAMAD JAHAM ABDULAZIZ AL-KAWARI,
PRIMEIRO EMBAIXADOR DO QATAR JUNTO DA SANTA SÉ*
12 de Dezembro de 2003
Senhor Embaixador
1. Sinto-me feliz em receber Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Estado do Qatar junto da Santa Sé e agradeço-lhe as suas amáveis palavras.
Ficar-lhe-ia grato, Senhor Embaixador, por transmitir a Sua Alteza o Emir do Qatar, Xeque Hamad ben Khalifa Al-Thani, os meus agradecimentos pelas saudações gentis que me enviou por seu intermédio, e por lhe expressar em troca os meus votos cordiais de bem-estar e de paz para todos os habitantes do país.
2. Senhor Embaixador, o seu jovem país, que se encontra situado numa parte do globo considerado pelo mundo como estratégico, está comprometido a assumir o seu lugar no concerto das Nações, abrindo-se aos intercâmbios regionais e internacionais e a participar de várias maneiras na vida internacional. Convencido do interesse e da fecundidade do encontro entre as culturas e as religiões, ele esforça-se por promover o diálogo como meio para resolver as tensões entre os povos e de progredir rumo a um melhor entendimento, para o bem de todos. Isto constitui também, como é do conhecimento de Vossa Excelência, uma preocupação constante da Santa Sé, que encoraja as nações a fazer o possível para resolver as numerosas e graves dificuldades que estão presentes hoje na vida internacional e para evitar os riscos de confrontos, através de um diálogo corajoso e infatigável que respeite todas as partes em causa. Desta forma, as condições para uma paz sólida e duradoura serão verdadeiramente garantidas.
A mundialização que caracteriza o nosso tempo não deve ser vista apenas como um fenómeno económico, assinalado pela interdependência cada vez mais estreita de intercâmbios financeiros e comerciais, nem como uma aceleração prodigiosa da comunicação entre os homens, graças ao considerável progresso feito pela técnica. Ela exprime mais fundamentalmente a tomada de consciência "de que há valores comuns a todas as culturas, porque radicados na natureza da pessoa. É nesses valores que a humanidade exprime os seus traços mais autênticos e qualificantes" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2001, n. 16). Por conseguinte, o reconhecimento da nossa pertença comum ao mesmo mundo e à mesma família humana deve transformar as relações entre as pessoas e entre os povos, para que seja sempre respeitado o bem comum e cessem os confrontos violentos e mortíferos entre os homens, dado que eles são todos irmãos, criados para glória do único Deus.
3. Para a Igreja católica, a liberdade faz parte dos direitos humanos mais fundamentais, porque exprime precisamente a dignidade inviolável de cada homem na sua dimensão mais nobre, isto é, a sua relação com o Criador, e porque ela pertence à liberdade de consciência. Eis o motivo pelo qual a Santa Sé se esforça por recordar a todo o mundo o necessário respeito deste direito, que é válido para todos os crentes de todas as religiões. Alegro-me profundamente por saber que o Estado do Qatar reconhece a todos os crentes a liberdade de culto, e aprecio a atitude acolhedora do seu governo em relação aos cristãos, sobretudo da Igreja católica. Agradeço calorosamente a quantos se empenharam neste âmbito. Estou consciente de que, por seu lado, os fiéis católicos se comprometem a trabalhar de coração para o bem do país onde vivem, no respeito das suas leis e das suas tradições, e com a preocupação pelo diálogo da vida com todos, sobretudo com os Muçulmanos.
O diálogo desejado entre as nações deve consentir superar a violência e preparar as condições de uma paz verdadeira. Ele impõe-se também como uma necessidade entre as religiões. A respeito disto, aprecio a atenção que as Autoridades do seu País dedicam à promoção activa do diálogo entre cristãos e muçulmanos. Por meu lado, estou convencido de que, "as confissões cristãs e as grandes religiões da humanidade devem colaborar entre si para eliminar as causas sociais e culturais do terrorismo, ensinando a grandeza e a dignidade da pessoa e incentivando uma maior consciência da unidade do género humano. Tratando-se de um campo concreto do diálogo e da colaboração ecuménica e inter-religiosa, colocando as religiões ao serviço da paz entre os povos" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2002, n. 12).
4. Estou-lhe grato, Senhor Embaixador, por ter recordado a situação dramática da Terra Santa e pelo seu ardente desejo de que este conflito tenha fim num futuro próximo. A Santa Sé partilha esta preocupação de modo constante e aproveita todas as ocasiões para recordar à comunidade internacional o seu dever de trabalhar com insistência junto das partes em causa para que sejam empreendidas verdadeiras negociações, convidando também as Autoridades e os povos envolvidos a não perder ocasião alguma para procurar um futuro de paz e de fraternidade. De facto, só haverá paz verdadeira nessa região mediante a renúncia à violência recíproca e recorrendo a um diálogo corajoso que possa levar ao reconhecimento do direito que cada qual tem de viver livremente na sua terra, no respeito da justiça e da segurança para todos, particularmente nos lugares santos.
Possa chegar o dia tão desejado em que esta terra, tão querida a todos os filhos de Abraão, verá instaurar-se a paz!
Senhor Embaixador, permita que eu, através da sua pessoa, envie uma saudação calorosa à comunidade católica que vive no Qatar, bem como a todos os fiéis cristãos de outras confissões. Que eles tenham a preocupação de se comportar como verdadeiros discípulos de Cristo, pondo em prática o dúplice mandamento do amor de Deus e do próximo! Os meus votos fervorosos alcancem também todos os habitantes da vossa nobre terra.
No momento em que Vossa Excelência inicia a sua nobre missão, asseguro-lhe a atenciosa disponibilidade de todos os meus colaboradores, e apresento-lhe os meus melhores votos para um trabalho frutuoso, a fim de que se desenvolvam relações harmoniosas entre a Santa Sé e o Estado do Qatar.
Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, os seus colaboradores e sobre todos os seus compatriotas, invoco a abundância das Bênçãos do Altíssimo.
*L'Osservatore Romano n. 52 p. 8, 9.
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