DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
À SENHORA SARALA MANOURIE FERNANDO
NOVA EMBAIXADORA DO SRI LANKA JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS
27 de Maio de 2004
Excelência
É com prazer que lhe dou as boas-vindas no dia de hoje, no momento em que apresenta as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República Democrática Socialista do Sri Lanka junto da Santa Sé. Estou-lhe grato por me transmitir as cordiais saudações da parte da Presidente, Sua Ex.cia a Senhora Chandrika Bandaranaike Kumaratunga, e peço que tenha a amabilidade de lhe retribuir, juntamente com a expressão dos meus bons votos, a certeza das minhas orações a fim de que Deus Todo-Poderoso abençoe todo o povo do Sri Lanka com um futuro de paz e de prosperidade.
Vossa Excelência falou sobre a importância do restabelecimento dos debates sobre a paz e da promoção do diálogo e das negociações, em vista de alcançar uma resolução política para a contínua agitação civil no Sri Lanka. Com efeito, o cessar-fogo actual representa uma oportunidade inestimável para ambas as partes em conflito, a fim de concentrarem os seus esforços na edificação da confiança e da paz duradouras, fundamentadas no respeito pelas diferenças e no compromisso em prol da reconciliação, da justiça e da solidariedade. Formulo votos para que o progresso realizado no processo de paz sirva também como incentivo para a comunidade internacional oferecer o seu apoio e a sua assistência, no momento em que o Sri Lanka está a enfrentar a tarefa desafiadora de reconstrução e de busca de um desenvolvimento sólido que há-de beneficiar todo o seu povo.
Neste contexto, aprecio profundamente a sua referência à longa tradição cingalesa de tolerância religiosa e de diversidade, como um dom precioso que deve ser salvaguardado e promovido. Em cooperação com todos os homens e mulheres de boa vontade, os seguidores das várias religiões têm um papel singular a desempenhar na promoção da reconciliação, da justiça e da paz, em todos os sectores da sociedade em geral. Precisamente em virtude das suas convicções comuns acerca da sacralidade da criação, da dignidade de cada um dos indivíduos e da unidade de toda a família humana, eles são chamados a trabalhar juntos para lançar os fundamentos espirituais de uma harmonia social genuína. Renovo a esperança que expressei durante a minha Visita Pastoral ao Sri Lanka, de que todos continuem "a percorrer este caminho que, sem dúvida, é o que mais corresponde à sua história e ao génio do seu povo" (Discurso de despedida, Colombo, 21 de Janeiro de 1995). Uma sociedade multiétnica e tão diferente sob o ponto de vista religioso, como é a do Sri Lanka, certamente encontrará nas suas ricas tradições culturais e espirituais a inspiração necessária para a edificação da unidade dentro da diversidade, num espírito de solidariedade que reconheça e valorize a contribuição oferecida por todos os seus membros.
Não obstante a comunidade católica no Sri Lanka represente uma minoria, ela está plenamente comprometida em alcançar esta finalidade, enquanto procura, através das suas escolas e das suas instituições de caridade, tornar-se um instrumento de paz, ensinando a tolerância e o respeito, sobretudo aos jovens, que constituem o futuro da nação. A Igreja deseja oferecer toda a contribuição possível para o processo permanente de pacificação. Como cidadãos cingaleses, os católicos justamente esperam que as suas liberdades religiosas e civis sejam integralmente garantidas, inclusive o seu direito a propor aos outros a verdade salvífica, que eles puderam conhecer e decidiram abraçar. A liberdade religiosa, como expressão da dignidade inviolável da pessoa humana em busca da verdade, é verdadeiramente o fundamento de todos os direitos do homem. Esta liberdade que, como Vossa Excelência observou, inclui também o direito a adoptar uma religião ou um credo da própria escolha, foi reconhecido há muito tempo como um direito humano fundamental pela comunidade internacional, tendo então sido inserido na constituição do seu país.
É precisamente em nome da liberdade religiosa que a Igreja católica, no cumprimento da sua missão, deplora com determinação toda a violência perpetrada contra os outros em nome da religião. De igual modo, ela rejeita todas as formas de proselitismo, entendido como a tentativa de violar a liberdade de consciência das outras pessoas, através da coerção moral ou financeira. Tais actos representam uma ofensa contra a natureza autêntica da religião, que deve ser "uma fonte inesgotável de respeito e de harmonia entre os povos; com efeito, a religião é o principal antídoto à violência e ao conflito" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, n. 14). Aproveito este ensejo para reiterar a minha convicção de que o diálogo respeitador e a cooperação permanente entre os líderes religiosos e as autoridades civis continuam a constituir o caminho rumo a uma solução duradoura para os problemas inquietadores levantados pelos actos de fanatismo e de agressão, associados a determinados indivíduos ou grupos, garantindo ao mesmo tempo as exigências da justiça e o exercício da liberdade religiosa.
Excelência, transmito-lhe os meus sinceros bons votos no momento em que a Senhora Embaixadora assume as suas altas responsabilidades. Estou persuadido de que o cumprimento dos seus deveres diplomáticos há-de contribuir para fortalecer ainda mais as relações de amizade entre o Sri Lanka e a Santa Sé. Sobre a Senhora Embaixadora e sobre todas as pessoas a cujo serviço Vossa Excelência se põe, invoco cordialmente as copiosas bênçãos divinas da sabedoria, do júbilo e da paz.
*L'Osservatore Romano 2004 n. 23 p. 6.
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