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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR EDGARD STEPHANUS RAGOENATH AMANH
NOVO EMBAIXADOR DO SURINAME JUNTO
DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
 DAS CARTAS CREDENCIAIS*

27 de Maio de 2004

Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, no dia de hoje, e que aceito as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Suriname junto da Santa Sé. Aprecio muito a sua referência ao desejo do Presidente Venetiaan de uma íntima cooperação entre o seu país e a Santa Sé, e gostaria de pedir a amabilidade de lhe transmitir as minhas cordiais saudações. Ao governo e ao povo do Suriname, ofereço a certeza das minhas orações pela paz e a prosperidade da Nação.

As relações diplomáticas da Igreja fazem parte da sua missão de serviço em favor da família humana e estão orientadas especificamente para a promoção da paz e da harmonia entre os povos do mundo. Eis as condições essenciais para o progresso na obtenção do bem comum e do desenvolvimento integral dos indivíduos e das nações, que só podem ser alcançados na medida em que a dignidade própria de cada ser humano for protegida pelas estruturas legislativas da nação e reiterada pelas suas instituições civis.

Senhor Embaixador, no seu país, com as suas tradições culturais e religiosas particularmente ricas e diversificadas, a importância de reconhecer a dignidade humana inata de cada indivíduo salta imediatamente aos olhos. Sem a defesa e promoção vigorosas dos valores comuns, radicados na própria natureza da pessoa humana, a coexistência pacífica das comunidades de diferentes tradições étnicas e religiosas ficaria desprovida de um fundamento sólido. Além disso, em situações de pluralismo cultural e religioso, é cada vez mais óbvio que a compreensão e o respeito mútuos pelas diferenças desempenham um papel vital na manutenção da unidade nacional, necessária para o progresso genuíno e para afastar o tremendo espectro do conflito inter-religioso ou interétnico. A este propósito, é-me grato observar as notáveis contribuições oferecidas pelo Conselho das Igrejas Cristãs, instituído há muito tempo, e pelo Conselho Inter-Religioso, ambos particularmente activos quando se trata de ajudar a sociedade surinamesa a desenvolver-se em conformidade mais estreita com a dignidade e os direitos dos seus cidadãos.

Como Vossa Excelência observou, o Suriname e o resto da comunidade internacional estão a enfrentar os prementes problemas de um mundo contemporâneo cada vez mais globalizado e do nascimento de uma nova ordem internacional. Embora a globalização em si mesmo seja um fenómeno neutral, não hesitei em tornar conhecida a minha solicitude, à vista de uma globalização que exacerba as condições dos necessitados, que não contribui de maneira suficiente para resolver as situações de fome, pobreza e desigualdade social, e que não salvaguarda o meio ambiente natural. Para contrastar estas injustiças, a comunidade internacional deve procurar garantir que a globalização seja eticamente responsável, tratando as pessoas como parceiros igualitários e não como instrumentos passivos. Desta maneira, a globalização pode servir toda a família humana, não já beneficiando apenas poucas pessoas privilegiadas, mas suscitando progresso do bem comum de todos (cf. Encontro Plenário da Pontifícia Academia para as Ciências Sociais, 2 de Maio de 2003).

Um elevado sentido de interpedendência económica, política e cultural exige uma maior solidariedade entre as nações desenvolvidas e os países em vias de desenvolvimento. Um sinal certo do compromisso positivo da comunidade internacional em prol do bem comum, que tal solidariedade fomenta, é o aumentado reconhecimento da necessidade urgente de aliviar a pobreza, onde quer que ela se encontre (cf. Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 14). A Santa Sé, por sua vez, continuará a contribuir para as finaldiades do chamado "Desenvolvimento do Milénio", assim como para as novas iniciativas, tais como a "Promoção Internacional das Finanças", que tem como seu dúplice objectivo financiar projectos de desenvolvimento sustentável e alcançar a meta da ajuda correspondente a 0,7% da Renda Nacional Bruta. A redução da dívida esmagadora, que escraviza muitos países em vias de desenvolvimento, é essencial se quisermos salvaguardar a sua potencialidade económica.

O exercício da solidariedade exige também um esforço incondicional, a realizar no seio de cada uma das sociedades (cf. Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis, 39). Se quisermos alcançar um progresso autêntico ao longo do caminho de uma igualdade de parceria, então os gestos concretos de assistência por parte das nações ricas devem realizar-se com transparência e responsabilidade políticas da parte dos países receptores. O governo responsável, a manutenção da lei e da ordem em todo o país, a participação de todos os sectores da sociedade em geral e o apoio das instituições civis comprometidas no desenvolvimento genuíno da nação, tudo isto desempenha uma função particular na promoção de uma cultura da paz e da colaboração. Na sua nação, estas são algumas das condições necessárias para atrair os inventimentos exigidos para estimular o crescimento económico necessário para permitir que os surinameses que vivem no estrangeiro possam regressar à sua pátria com uma perspectiva de trabalho e de um futuro seguro.

A Igreja católica que está no Suriname, por sua vez, continuará também a contribuir para a consecução das finalidades da paz e da prosperidade. Fiel à sua missão espiritual e humanitária, ela desempenha um papel concreto nas iniciativas inter-religiosas e nas actividades multiculturais que visam servir o bem-estar dos povos. Através das suas numerosas escolas, instituições de assistência médica e programas de desenvolvimento comunitário, a Igreja procura edificar um futuro melhor para o país. Neste serviço, ela não busca o poder nem o privilégio, mas apenas a liberdade de expressão da sua fé e da sua caridade nas obras de bem, de justiça e de paz.

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe a assistência pronta dos vários departamentos e agências da Cúria Romana. A sua missão sirva para revigorar os vínculos de compreensão e de cooperação entre o Suriname e a Santa Sé, que se tornaram mais profundos desde o estabelecimento das relações diplomáticas, há dez anos. Sobre a sua pessoa e os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n.23 p. 5, 7.

 

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