DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR JOÃO ALBERTO BACELAR DA ROCHA PÁRIS
NOVO EMBAIXADOR DE PORTUGAL
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS*
21 de Setembro de 2004
Senhor Embaixador,
Bem-vindo seja ao Vaticano, onde tenho o prazer de acolhê-lo por ocasião da apresentação das Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Portuguesa junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte do Senhor Presidente Jorge Sampaio e do povo português; as suas palavras trouxeram-me à mente os dias das minhas Visitas Pastorais à sua terra, mormente ao Santuário de Fátima, quando pude pessoalmente constatar as raízes cristãs dessa Nação abençoada e protegida por Nossa Senhora. Ficar-lhe-ia grato, se Vossa Excelência pudesse transmitir ao Senhor Presidente da República os meus votos de bem-estar e prosperidade para todo o país e a certeza das minhas súplicas ao Altíssimo para que continue inspirando sentimentos de recíproco entendimento e de fraternidade que hão-de permitir a edificação da Pátria como casa e obra de todos.
É por todos conhecido o panorama sócio-político mundial deste início de milénio: a acentuação das diferenças regionais, tanto culturais quanto económicas; a preocupação pela salvaguarda da paz frente à crescente acção de grupos extremistas que "têm tornado cada vez mais hirto de obstáculos o caminho do diálogo e das negociações" (Mensagem de Sua Santidade para o dia Mundial da Paz, 8); a frequência de catástrofes naturais e outras, bem mais graves, que assolam inteiras populações, como são a fome e as enfermidades endémicas, por vezes incontroláveis; o descompasso gritante entre ricos e pobres, e o consequente desrespeito dos direitos humanos são, entre outros, motivo de séria apreensão de todo governante, consciente da participação globalizante das próprias decisões.
Senhor Embaixador, o seu país tem consciência dos esforços da Santa Sé no sentido de humanizar a mundialização e de captar a influência benéfica do progresso científico e tecnológico em vista do maior bem-estar de cada povo ou nação. Foi por isso, que as autoridades do governo português não hesitaram em reconhecer e propalar as próprias convicções cristãs à hora de colaborar na preparação de uma Constituição européia. Desejo aproveitar esta ocasião para exprimir o Meu reconhecimento pela acção do seu Governo em ressaltar a identidade cristã da Europa, e faço votos por que as convicções que dela derivam possam afirmar-se tanto no âmbito nacional como internacional.
Neste sentido, a assinatura da nova Concordata entre a Santa Sé e Portugal, não vem a ser mais do que a expressão viva de um consenso maturado para reforçar a presença desta "alma" cristã fundada nas "profundas relações históricas entre a Igreja Católica e Portugal, tendo em vista as mútuas responsabilidades que vinculam as partes, no âmbito da liberdade religiosa, a continuar o seu serviço ao bem comum e a colaborar na construção de uma sociedade que promova a dignidade da pessoa humana, a justiça e a paz" (Cfr. Preâmbulo). Talvez a Providência, tal como outrora, induza a reviver o passado com novos gestos audazes, fazendo soar a hora de uma nova evangelização, que cabe a todos descobrir. Meus auspícios são de um Portugal actuante e destemido, sempre aberto aos novos desafios da nossa sociedade, e ciente de que o Todo-Poderoso não deixará de mãos vazias aos que se empenham em confiar em seus desígnios.
Entretanto, os referidos desafios poderão ser mais bem equacionados e apresentados à opinião pública da Comunidade Internacional, se entrarem como elementos duma lógica de desenvolvimento, na qual as forças vitais da sociedade local constituam a sua força propulsora: associar os cidadãos aos projectos da sociedade, dar-lhes confiança naqueles que os governam e na Nação de que são membros, eis as bases sobre as quais assenta a vida harmónica das sociedades humanas. Fiel à missão religiosa e humanitária que lhe é própria, a Igreja procura desempenhar o papel de fermento da unidade, e gostaria que o Evangelho vivificasse cada vez mais o gérmen cultural que é a base de uma nação.
Sei que a esta tarefa se consagram os pastores e os fiéis católicos da sua mãe pátria berço de numerosos santos e beatos portugueses, como aliás o Senhor Embaixador reconhecia destacando o serviço à fé desse povo generoso e fiel. Aproveito o ensejo para dirigir, através de Vossa Excelência, as minhas fraternas saudações a todos os seus compatriotas-membros da Igreja Católica e cuja aspiração profundamente sentida é a de cooperar de maneira harmoniosa e efectiva com os seus concidadãos na construção duma Nação solidária e fraterna.
Senhor Embaixador,
Neste momento em que inicia oficialmente o mandato, formulo votos de bom sucesso para a sua nobre missão, assegurando-lhe que sempre poderá dispor da solícita atenção dos meus colaboradores em tudo quanto possa servir o frutuoso desempenho do cargo. Por fim, reiterando todo o meu afecto ao povo de Portugal e a minha deferente saudação aos seus governantes, invoco sobre Vossa Excelência, seus familiares e colaboradores bem como sobre a nação inteira a ajuda de Deus e a abundância das suas bênçãos.
*Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. XXVII, 2, p. 286-288.
L'Osservatore Romano 22.9.2004 p.5.
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